Há alguns anos resolvi abrir uma empresa no Brasil junto a alguns sócios. Eu, Loyola y Loyola, junto a Pimenta Bueno e Catarina Rosa. Conhecemo-nos através de um amigo
Catarina Rosa ficou encarregada de comprar jovens jogadores nordestinos. Em troca oferecemos a ilusão de um futuro promissor, migalha aparentemente superior à Bolsa Família. Todos aceitaram. Pimenta Bueno, profundo conhecedor de nossa história e seus detalhes detestáveis, encarregou-se da corrupção. A estratégia foi desenvolver produtos como cuecas com compartimentos para o transporte de dólares e abrir franquias do Banco Rural no exterior. Encarreguei-me das bundas. Nada além de exportar mulatas aos países onde são mais escassas e, conseqüentemente, mais caras.
Tínhamos tudo para fazer sucesso e gerar “emprego e renda” aos mais necessitados – no caso das mulatas os necessitados estavam na outra ponta. Demoramos 152 dias para abrir nosso negócio, mais de cinco meses. Senti-me mais brasileiro quando descobri que, se fossemos do Suriname, demoraríamos 694 dias. Ha! O Brasil ainda não é o Suriname! Irritei-me quando descobri que se fossemos australianos a demora seria de apenas dois dias. Talvez lá não seriamos tão brasileiros, povo que não desiste nunca.
Passada esta fase, calculei quanto tempo levamos para administrar e pagar tributos. Em Cingapura, país de primeira linha (não é verdade?!), leva-se 2 dias. Aqui, incríveis 2600 horas por ano. Não contive a risada, e logo em seguida o choro. Senti-me ridículo. Todo empreendedor sente-se ridículo por aqui.
Infelizmente, ao final do primeiro ano, minha sócia Catarina Rosa morreu. Para curar alguns ferimentos aceitou passar um unto amarelado, crendice de uma cidade do sertão nordestino. Brotaram-lhe edemas negros por todo o corpo, que não resistiu. Como manda a lei, notificamos as autoridades de todas as mudanças societárias. Por razão desconhecida, tanto a Receita Federal quanto a Secretaria da Fazenda não atualizaram os cadastros. A solução, recomendada por um servidor, foi incluir e excluir – novamente – um a um os sócios que entraram e saíram da empresa. A inclusão e a exclusão de um sócio tomam semanas até serem processadas pelo Fisco. Aceitei o nariz de palhaço.
Ao final deste processo fomos informados de que devíamos à Receita. Havíamos quitado alguns impostos e decidido pagá-los através de um plano de refinanciamento da própria Receita. Ao final da quitação fomos considerados inadimplentes. Vai saber! A Receita não explicou o porquê e demorou seis anos para divulgar o valor da “dívida” – que não existia. Com isto, não foi possível obter financiamentos. Ainda era pouco.
A gota d’água veio enquanto tentávamos importar terrorismo político da Inglaterra. Nossos “V de Vingança”. O grande problema, vejam só, estava na cor da caneta que assinava a fatura da importação. Digam-me, é possível levar a sério um país que tem orientações da aduana inclusive para a cor da caneta que assina a documentação? A quem interessa todas esta burocracia? A quem manda neste país, à burocratada, aos funças, aos “cara-crachá-cara-crachá” que fazem de seu trabalho um hobbie. Esta gente que teme as privatizações, a meritocracia, a produtividade e inclusive a ladainha do “choque de gestão”. Não fechamos a empresa com medo dos anos que isto tomaria. Preferimos explodi-la com os funcionários dentro e fugir do mapa. Fomos dados como mortos. Escrevo de um paraíso fiscal com este pseudônimo ridículo.
PS: os dados são do Banco Mundial (relatório Doing Business) e a cor da caneta deve ser azul. Nossos “V de Vingança” ainda estão por aí. Aguardem.